Certamente a crespidão genuinamente Brasileira de seus cabelos, os traços fortes de seu rosto e a voz que por vezes aproxima-se de ecoadas masculinas, além do exercício de sua fé percorrer os cânticos de Nossa Senhora e as trovoadas de Iansã, Maria Bethânia Viana Telles Veloso é uma figura que desperta o burburinho das mais variadas personalidades.
Em parte pode-se legitimar a sua competência como intérprete da música Brasileira quando nos deparamos com o vasto acervo de prêmios ganhos. Para citarmos, apenas, os mais recentes: Melhor disco (Encanteria). Na categoria canção todas as três ganhadoras (Encanteria, Feita na Bahia e Saudade) figuram em seus discos – 21º Prêmio da Música Brasileira; Melhor canção (Tua) – Grammy Latino; Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro (Lisboa). Maria também já foi tema de congresso (Congresso Brasileiro sobre O Canto e a Arte de Maria Bethânia em 45 Anos de Palco), de Documentários ( Música é Perfume, 2005. Pedrinha de Aruanda, 2007.) e de Poema (Maria Bethânia, Guerreira Guerrilha). Mas certamente essas são apenas expressões da beleza de uma personalidade que é bem recebida pela crítica Internacional e Nacional.
O cerne que mostra-nos o porquê dela ser a segunda cantora Brasileira que mais vendeu discos é vivido quando se assiste uma apresentação sua. É lá que vemos a força de sua voz entoando uma mensagem que passa da crítica social ao bem-juntinho dos casais. E que é recebida com uma verdade de transportar-nos para o drama da composição. Tal como Edith Piaf, Billie Holiday, Nina Simone, entre outras. Bethânia se entrega totalmente ao seu ofício. Em suas próprias palavras, ela empresta a voz, a sua vida às músicas. Talvez seja por isso que vemos a total intimidade que ela tem com o palco, chegando muitas vezes a deitar-se nesse ambiente sagrado, sempre o percorrendo de pés descalços e com pulseiras e colares de ouro.
Seus shows não se resumem apenas à banda, cantora, platéia e alguma decoração clean. Eles tem uma identidade mais trabalhada em torno de um tema específico. No Dentro do Mar tem Rio resultado de dois CDs lançados simultaneamente (Mar de Sophia e Pirata), Bethânia canta a poesia de Sophia de Mello Breyner, que tem como tema principal o mar e suas simbologias. Assim como canta o universo folclórico e afetivo das águas dos rios do interior do Brasil. Maria Bethânia é uma divulgadora inata da cultura brasileira, seja nas cantigas de roda santo-amarenses ou na cadência do samba de Vinícius de Moraes.
Em contrapartida a tanta riqueza e diversidade musical, Maria não cede às pressões da “aldeia global”. São raras às vezes em que aparece na TV e quando aparece é em programas de especificidades, em grande parte na TV por assinatura. Suas recentes aparições foram no programa “Viver com Fé”, no canal fechado GNT e no “Sarau”, Globo News. Assim como não é adepta das redes sociais e muito menos divulga sua música maciçamente nos campos da internet. O que provoca uma crítica negativa ao seu trabalho e a sua pessoa. Mas será que a cantora de Carcará é, portanto hermética? Até que ponto poderíamos chamar de modernidade os campos das curtidas e compartilhamentos no Facebook?
E como bem diz a música “Olho de lince”, quem fala de Bethânia tem é paixão.
0 comentários:
Postar um comentário