Depois de um dia cansativo de trabalho mais de dois bilhões de pessoas
retornam para suas casas, tomam aquele banho, jantam e... Isso mesmo, hora da novela!
Engana-se quem pensa que isso é um hábito apenas das mulheres, donas de casa e
pessoas de baixa classe social. “A maior parte do público não tem bagagem cultural
para um entretenimento mais consistente do que a telenovela, e uma boa parte que
tem essa bagagem teve um dia cansativo, quer espairecer. Não estou dizendo que
uma telenovela precise ser idiota, mas não pode exigir reflexão demais”, diz Gilberto
Braga.
Fenômeno de audiência, as novelas passam a fazer parte da vida do
telespectador de tal maneira a influenciá-lo no modo de se vestir, falar e até mesmo
nos valores sociais. O público cria laços afetivos com os personagens tão fortes, que
eles tornam-se modelos a serem seguidos. As tendências da moda, por exemplo, muitas
vezes sai da tela da TV para as ruas, despertando o desejo nas pessoas de adquirir a peça
que aquele ator/atriz usa na novela, começando a participar ativamente do dia-a-dia do
telespectador. E isso se repete a cada nova novela que for acompanhar, um verdadeiro
ciclo vicioso imposto pela teledramaturgia.
Segundo a Professora do Núcleo de Pesquisa em Telenovela da USP, Maria
Lourdes Motter, as novelas fazem muito sucesso pelos assuntos que retratam:
encontros e desencontros, separação, traição, segredos, mistérios, disputas. Sempre irão
envolver basicamente estas coisas, independente do autor ou da época, a diferença é
apenas o avanço tecnológico. Estes assuntos e tantos outros levam o público a debater,
opinar sobre temas polêmicos, problemas urbanos e influenciam até mesmo na quebra
de tabus. Escalada, de 1975 fez estourar a polêmica do divórcio, que virou lei um ano
depois, por exemplo. “Ninguém aguenta ver um documentário sobre leucemia, mas
esse assunto se torna atraente quando entra no enredo das novelas”, completa Maria
Lourdes Motter.
No dia 12 de março de 2005, oito em cada 10 TVs ligadas no Brasil estavam
sintonizadas no último capítulo de Senhora do Destino, e isso reforça o poder que as
novelas têm. Essa influência torna-se negativa quando as pessoas confundem ficção
com realidade, e começam a copiar o personagem de maneira fantasiosa percebendo que
na vida real é diferente, muitas vezes levando a decepção.
É preciso ter censo crítico para saber realmente separar esses dois paralelos:
realidade/ficção, não se deixando levar pela trama, que muitas vezes intervém na
formação da moral das pessoas, as alienando e impondo ao público determinado
comportamento. Faz-se necessário que o telespectador tenha o cuidado na interpretação
dos fatos, não trazendo a novela à sua vida de maneira ilusória. Na vida não há textos já
definidos, personagens escolhidos, cenário arrumado. Cada pessoa com seu enredo, suas
escolhas, seu modo de viver, esperando o que acontece no capítulo de amanhã, marcado
pela incerteza dos fatos, que podem mudar a qualquer momento o desfecho de sua história.
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