O velho trem que transportou tantos homens de mãos calejadas, homens de saúde
precária, mas que mesmo assim achavam facilidade em expressar um sorriso. E
este mesmo trem que levou sonhos de uma vida, não confortável, mas que consiga
ultrapassar os limites de sobrevida, de mulheres macho, agora é ponto de uma outra
aglomeração: O projeto São João com Fartura. “Evento especial constituído em um
projeto de caráter didático, realizado desde 2006, desenvolvido por alunos do curso
de Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas e Rádio e TV da
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, sob coordenação do professor Dr.Severino
Alves de Lucena Filho, orientador da disciplina Laboratório de Planejamento de
Eventos, com o objetivo de arrecadar e distribuir alimentos não perecíveis aos
segmentos carentes da sociedade pessoense”. Conforme explicado no blog RelaçõesPúblicas e Publicidade e Propaganda (RPePP).
O evento consiste numa viagem, de João pessoa com destino à cidade de Cabedelo,
mais ou menos uma hora de viagem num trem sem preocupações de chegada. Em cada
vagão um trio de forró cantou clássicos como “trem das onze”, “asa branca”, “olha pro
céu”. Embalados por uma energia calorosa, da qual se fazia com facilidade a interação
das pessoas, o trem viajou pelas margens de uma João Pessoa ignorada por muitos. Das
janelas de grades redondas, via-se do trem os casebres e o olhar curioso das crianças
que estavam a brincar com piões, pipas ou qualquer que fosse o objeto. Crianças têm
disso, precisam de pouco para alimentar a fertilidade de sua imaginação. Também se
viu o aglomerado de prédios, fábricas e condomínios fechados. Tudo isso entremeado
pela pouca vegetação, fruto de um, como fala Caetano na música Purificar o Subaé,
progresso vazio
O Público foi heterogêneo. Crianças pintadas, com fitas coloridas nos cachos
caprichados do cuidado materno, idosos de sorriso fácil, adultos embalados pelo sabor
da cerveja ou do refrigerante e jovens acompanhando o ritmo festivo dos vagões.
Chegada à cidade de destino, o pequeno bloco junino seguiu em direção à Fortaleza
de Santa Catarina, uma chuvinha fina acompanhou-nos. O que não foi motivo de
intimidação para quem sentia nessa chuva e na música ecoada, o exorcismo das tensões
advindas da semana dura de trabalho.
No Forte, o bom e velho espírito cirandeiro tomou conta dos foliões e algumas das
pequenas cirandas que se formaram fundiram-se numa única roda a cantar “sou rosa
vermelha, ai meu bem querer, beija flor sou tua rosa, hei de amar-te até morrer”. A
sanfona deu um breve “até logo” à fortaleza por volta das 17 horas, porém a animação
de seus acordes continuou na volta dentro do trem.
Curiosamente, o evento transcorreu-se harmonicamente. Sem violência nem algum
mal-estar que necessitasse de atendimento médico, mesmo o SAMU estando pronta
para o ofício, na construção colonial. Um bem-estar muito provavelmente também
foi percebido pelo quantitativo na arrecadação de alimentos, previsto esse ano para
as 5 toneladas. A comida arrecadada talvez não desperte a fome por mudança da
população beneficiada, mas saciará a fome que muitas vezes passa a sensação de objeto
descartado, que a “gente humilde”, de Chico Buarque, experimenta em doses amargas.
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Créditos das Imagens : Lins Fotografias
http://www.linsfotografias.com.br/site/
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