sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Belo Monte: Um escambo com juros de 500 anos


Recentemente a justiça do Pará determinou que as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, fossem paradas, pois reconheceu como legítimo o pedido do Ministério Público ao alegar que o Congresso Nacional simplesmente passou por cima da opinião das comunidades indígenas que moram na localidade. Protestos também fizeram com que as obras da Norte Energia fossem interrompidas outras vezes este ano.

O que poucos sabem é que desde 1990 representantes de 12 tribos locais lutam para embargar esse projeto ambicioso, que outrora chama-se barragem de Kararaô, hoje Belo Monte. Os índios alegam que é extremamente difícil deslocar uma tribo do seu habitat natural, tirando-a de sua rotina costumeira e impondo uma nova adaptação, que não parece fácil. Além de reeducar a caça e a pesca os índios teriam que abrir mão da sua cultura e abandonar os cemitérios onde estão enterrados os seus antepassados.

Os empreendedores responsáveis pela empreita terão, segundo o Tribunal Regional Federal do Pará, que consultar a população nativa e negociar. Propostas já foram lançadas e alguns líderes se mantém firmes na decisão de impedir o andamento da usina, outros, porém, estão dispostos a negociar e fizeram uma lista de exigências para liberação da obra. Entre os itens estão produtos como: Amarok, Hilux, L 200, F 4.000, caminhões, carros de passeio, ônibus, motos, barcos, contas gordas no banco,  1,3 mil cabeças de gado - de preferência, 500 delas da raça Nelore-, 40 picapes, com o detalhe de que todas devem ter tração nas quatro rodas, direção hidráulica e ar-condicionado. Para lidar com a plantação, as tribos querem 23 tratores de diferentes modelos e mais 20 barcos, 12 micro-ônibus com capacidade de 20 pessoas em cada, nove ambulâncias, 12 antenas de telefonia celular e internet sem fio, tudo para suportar centenas de computadores portáteis e de mesa que também constam na lista, reforma do campo de futebol de gramado, com instalação de iluminação e traves novas no gol, além de 30 freezers.

Não, você não está vendo a lista de bens de um parlamentar. Esses são apenas alguns itens de uma gigante lista enviada à Norte Energia. Uma lista possível graças à mistificação que damos aos nossos índios, ao status de coitados, retraídos e oprimidos que o governo e as políticas falsas jogam sobre os nossos reais brasileiros. Os índios, de Xingu, cobram uma conta de 500 anos, quando foram “explorados” (?) pelos portugueses que aqui ancoraram. Uma conta cara, não é?!


 Foto: Elza Fiúza/Ag. Brasil


A Norte Energia informou, obviamente, que não vai atender as listas de pedidos apresentadas pelos índios. O consórcio alega que trabalha nos detalhes de seu Plano Básico Ambiental (PBA) indígena, o qual foi acertado com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e que, segundo o consórcio, foi objeto de audiências públicas em cada uma das 28 aldeias que habitam a região.

A sensação que fica é que o índio perdeu a sua essência. Ou foi roubada ou ele mesmo a jogou fora. É mais do que certo que essas tribos sejam amparadas, assistidas por políticas públicas que garantam seus direitos civis e humanos, mas chega a ser rasgadamente uma falta de respeito com a própria origem. Ninguém quer mais caçar, pescar no barco, produzir artesanato ou fazer a dança da chuva! E a culpa é nossa, é do governo, que cultivou no índio – e cultiva no restante da população – uma dependência que fincou raízes. Belo Monte mostra, na verdade, não índios reivindicando a preservação da sua cultura, mas homens brancos trajados de arco e flecha e cocar se equiparando aos, já bem antigos, verdadeiros nativos, aos quais chamamos de “políticos brasileiros”.




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