Vinte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco 92, líderes e sociedade ao redor do mundo voltaram seus olhos e esforços em direção ao Rio de Janeiro mais uma vez, do dia 13 a 22 de Junho deste ano, visando resgatar aquilo que foi acertado na conferência de 92, ponderando sobre os avanços e regressos no sentido do Desenvolvimento Sustentável, conceito hoje mundialmente utilizado e discutido, e uma das mais importantes consequências da Eco 92. Em face dos avanços que sucederam a conferência nos últimos vintes anos, grandes expectativas se formaram ao redor deste evento, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, chamada Rio+20 em alusão aos vinte anos decorridos da Rio 92.
A Rio+20 teve como objetivo definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas, assegurando o comprometimento político com o mesmo, buscando avaliar resultados já alcançados, bem como abordar problemas emergentes. Os principais temas tratados na conferência foram a “economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável”, vistos como assuntos de urgência, os quais abarcam debates como o gerenciamento de recursos aquáticos e alimentícios, a busca por energias limpas, o combate à fome e à miséria, e as mudanças climáticas no planeta.
Diante da gravidade e complexidade dos assuntos tratados, e da polêmica em volta dos resultados imediatos da conferência, como estabelecer o nível de realização proporcionado pela Rio+20 naquilo que o evento se propôs a ser? Questiona-se a força e ousadia do documento produzido pelos líderes da ONU, assinado e aprovado pelos chefes de Estado e representantes ali presentes, entitulado “O Futuro que Nós Queremos”. O documento se aproxima das problemáticas apresentadas e é mais focado em exortar os países-membros da ONU a realizar mais na direção do Desenvolvimento Sustentável, mas efetivamente não estabelece soluções e políticas de ação para tal, não há recomendação para se acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis nem o estabelecimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, por exemplo.
Uma onda de críticas se levantou frente ao documento e ao evento em geral, principalmente com relação à falta de ousadia e vontade política. Uma carta em protesto, chamada “A Rio+20 que não queremos” foi assinada por personalidades do meio ambiental mundial, demonstrando insatisfação diante do que foi decidido. A carta diz que “O documento intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos,[...] e da importância e da urgência dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos.” E ainda: “A Rio+20 passará para a história como uma Conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta”.
O que não se pode ignorar, porém, com relação à Rio+20, principalmente em comparação com a Eco 92, foi a grande participação da sociedade civil; ONGs, empresas multinacionais, universidades, grupos científicos e de apoio a pesquisas nacionais e internacionais participaram de mais de mil eventos culturais e científicos, alguns deles não só marcando presença, mas mostrando comprometimento através da apresentação de diretrizes concretas, como o incentivo a novas tecnologias e energias limpas. O alerta e conscientização da sociedade brasileira para os problemas relacionados ao atual sistema de produção e consumo resultou em sucesso e a quantidade de eventos paralelos, bem como a grande mobilização popular surtirão efeito positivo na adoção de planejamentos ambientais aceitáveis no país.
Ainda é cedo para declarar completamente o sucesso ou o fracasso da Rio+20, e qualquer das duas afirmações seria ingênua e extremista. “O futuro que nós queremos” é inegavelmente vago e seus 128 parágrafos soam como uma promessa bonita, mas vazia. É reconfortante e encorajador, porém, pensar que apesar de a reunião de grandes líderes mundiais não ter produzido resultados concretos, a mobilização do cidadão comum se afirmou como a expressão mais viva da esperança na capacidade da humanidade para enfrentar o desafio da inclusão e do Desenvolvimento Sustentável no sentido econômico, ambiental e social. Na Rio+20 a mudança para forjar “O Futuro que Nós Queremos” não se efetivou nas grandes mesas de negociações, mas nas mentes e ações de cada cidadão disposto a batalhar por um futuro sustentável, criado por ele mesmo.
0 comentários:
Postar um comentário