Cultura: Banho de solidariedade e cultura

 No dia 11 de junho, aconteceu um evento em João Pessoa com dupla importância, uma cultural e outra social. Refiro-me ao “Chuva de arte solidária”, iniciativa proposta pelo cantor e compositor paraibano Flávio José que tinha como principal objetivo ajudar as vítimas da severa seca que assola o interior do estado. Para participar era simples, com apenas dois quilos de alimentos não perecíveis seu ingresso estava garantido e a partir das 19 horas poderia conferir, no Espaço Cultural (Funesc), os quatro shows programados para aquela noite, de Chico Cesar, Elba Ramalho, Clã Brasil e Flávio José.

Antes do show começar, era perceptível para um indivíduo mais atento que havia muita gente, mas todos estavam dispersos pela local e devido as suas grandes dimensões, parecia que o show não tinha tido uma grande adesão popular. Mas tudo isso mudou logo que os primeiros acordes da noite começaram, timidamente, a tocar e a primeira atração entrou no palco. Era Chico, e com sua “Mama África” uniu em frente ao palco toda aquela grande massa difundida, e todos, em um só coro, cantaram com ele esse grande hit atemporal dos anos 90, estava oficialmente aberta a noite em prol da solidariedade. Com o adiantar do show mais e mais pessoas foram chegando, muita gente trocando ingresso na entrada, e um pouco antes do fim do primeiro show já haviam sido arrecadados aproximadamente 17 mil quilos de alimentos.

Foto: Portal Conexão PB

 Depois do espetacular show de Chico Cesar, que fez uma síntese dos maiores sucessos de sua carreira, vieram as meninas do Clã Brasil, com seu forró pé de serra genuinamente paraibano e mundialmente conhecido, fizeram com que o público procurasse um parceiro para dançar clássicos do forró. Logo após sobe ao palco Flavio José, levando o público ao delírio com seu ritmo dançante e letras românticas, com claras influências de Luiz Gonzaga e Dominguinhos. E os casais, antecipando o dia dos namorados, dançavam colados e beijavam-se ao som do ritmo que embala o nordeste nessa época do ano.  E a bicampeã do Grammy Latino, Elba Ramalho, com sua voz inconfundível e carisma único, foi a última a se apresentar, movimentando mais a multidão animada, que mesmo depois de horas de show, não desanimava.

Foto: Divulgação

E no fim foram 22 mil quilos de alimentos arrecadados para ajudar a minimizar os estragos ocasionados pela seca intensa. Artistas da terra mobilizando milhares de cidadãos a sair de casa numa noite de segunda-feira, depois de um dia árduo de trabalho, para fazer o bem e aproveitar o melhor da música paraibana. Iniciativas assim não deveriam ocorrer apenas uma vez no ano, pois música boa faz bem, engrandece o espírito. E não precisamos ir muito longe para encontrá-la, caso alguém ainda tivesse dúvidas disso, a certeza veio naquela noite, pois ali estavam reunidos artistas singulares, comprometidos com o que fazem e eram, claro, paraibanos. 

Os que foram, fizeram um bem tanto para as vítimas da seca, quanto para a verdadeira música produzida na Paraíba, que ainda tem muita força e faz um barulho que se sobrepõe ao feito por aquelas canções de melodias fracas e letras que são uma verdadeira ofensa aos grandes compositores da nossa terra.

Posted in: arthur,cultura