O Jornalismo da Coluna Social
Nunca apareci em coluna social. Não sou filha de magnata, não frequento coquetéis de inauguração de lojas de decoração e muito menos estou no Canadá. Mas, veja bem, considero um deleite abrir na 4ª, 5ª página do caderno de cultura, vida ou arte e analisar aquelas subcelebridades locais em seus eventos badalados, ou não (essa é a melhor parte). Joguei no Google “coluna social”, o que me linkou aos principais colunistas e seus respectivos blogs e sites.
Em sua maioria, trata-se de cidadãos formados, com bagagem e atuação na área de comunicação, ganhando a vida com os sobrenomes da high society, e recheando suas páginas com “gente que faz”. Pergunto-me porque motivo essa gente se propõe a aparecer ocupando meia página do caderno com uma legenda do tipo “em tarde de compras”. Ainda pior: por que os colunistas se propõem a falar sobre gente que não faz coisas produtivas? Por dinheiro, o senso óbvio diria. Aí estão as Quems, Caras e Contigos! da vida para provarem o pano pra manga jornalística que o topo de uma pirâmide social não traz.
“As plateias precisam de algum elemento de identificação para que o espetáculo as envolva de fato”, destaca o jornalista e escritor Neal Gabler em seu livro “Vida, o Filme”, ao explicar essa cultura do entretenimento fácil, em que a vida transforma-se num espetáculo que nunca sai do ar, e somos simultaneamente espectadores e protagonistas.
As colunas sociais nacionais, em jornais impressos, ocupam mais espaço que algumas reportagens de capa. É muita imagem pra pouco conteúdo. Não existe culpado: há quem promova e há quem consuma, e estamos socialmente condicionados a nos identificar com um desses lados. Este texto não impedirá nós, mortais, de ler legendas e notinhas descartáveis, ou de se deliciar com os photoshops malsucedidos dessas colunas, mas fica, portanto, registrada a necessidade de um teor crítico ao se deparar com página dupla dessa “gente que (não) faz”. A propósito, a quem eu pago pra aparecer na edição de domingo “em night de trabalho, esbanjando beleza interior com o auxílio do sono”?
2 comentários:
Marina, acredito que no curso de Comunicação, ofertado pela UFPB. Sei disso, porque sou graduada por lá. Não temos uma disciplina que se proponha a estudar o colunismo social enquanto gênero do jornalismo (não precisava nem ser uma disciplina, mas pelo menos alguém interessado em estudar a questão). Nós enquanto jornalistas precisamos sim praticar um olhar crítico, principalmente sobre nossa profissão. Mas precisamos também olhar com mais cuidado aquilo que a academia e o próprio jornalismo rejeitam. As colunas sociais seguem os princípios da comunicação de massa e dentro da teoria dos gêneros jornalísticos atualmente se encontram entre as formas narrativas da informação e da opinião, ou seja, são um tipo de gênero "híbrido". Como um gênero voltado para a vida festiva da sociedade, recebe estigma de ser um tipo de jornalismo frívolo, de futilidades. Mas que na verdade diz muito sobre como nos portamos em sociedade, como também ela se estrutura, com formas de lazer, estilos de vida, padrões de comportamentos e beleza, etc. Mas o que na verdade venho dizer, é que nem sempre as imagens são as coisas mais importantes nesse gênero. Aparentemente, talvez sejam. E aí fica mais fácil julgar - pela aparência. No fundo das aparências veremos que as colunas sociais trazem informação. Isso mesmo. Informações sobre atividades culturais, mas também sobre bastidores da política, por exemplo. Muitos colunistas sociais se preocupam com importantes questões que dizem respeito ao espaço urbano da cidade... entre outras questões de interesse público. Assim, como pesquisadora da área, digo que precisamos olhar para o texto também e não apenas para as imagens, pois como você bem colocou os colunistas sociais são "cidadãos formados, com bagagem e atuação na área de comunicação". Nesse sentido, esses colunistas precisam hoje se preocupar em elogiar, mas também informar. Sou jornalista formada pela UFPB, mestranda em Comunicação (PPGC/UFPB), integrante do Grupo de Pesquisa sobre o Cotidiano e o Jornalismo (Grupecj), pesquiso o colunismo social praticado em João Pessoa.
Muito obrigada pela sua colaboração, Tarcineide, com o nosso blog e mais especificamente com o meu artigo! Nossa proposta é justamente essa: exercitar e aperfeiçoar o que aprendemos no curso ao qual também acreditamos. Atualmente também não há uma disciplina voltada ao colunismo social, porém tenho notado algumas discussões promovidas por alunos e professores tratando de assuntos do gênero. Justamente por ser público (ao menos dominicano) das colunas sociais que me dei ao direito de analisá-las com a propriedade de aprendiz. Suas observações foram muito válidas. Visite-nos sempre!
Att, Marina Cavalcante
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