sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um tanto de Tulipa

É pop, descontraído, leve, autêntico, palpável, é a Tulipa que voltou! Ela, que causou rebuliço na musica nacional em 2010, com o lançamento do seu primeiro álbum, o muito elogiado, “Efêmera”, eleito um dos melhores do ano pela crítica especializada, reaparece no cenário musical com novidades, depois de um jejum de material inédito. Paradoxalmente ao leve, citado na primeira linha desse texto, as composições contém um peso, tanto nas melodias, quanto nas letras, de uma forma sutil ela canta sobre os problemas cotidianos que uma vida contemporânea acarreta. 

Mesmo tão elogiada, a Tulipa, em comparação com outros novos artistas nacionais que tiveram uma grande adesão meteórica da massa, ficou um tanto quanto restrita àquele público mais alternativo. E vejo isso como algo positivo, pois desgasta menos sua obra, que não deve ser “engolida” de uma vez, mas sim, degustada com delicadeza, ouvida com atenção. Esse ano, a rede Globo apostou num modelo de fazer novela que difere um pouco do vinha sendo tido como habitual – vide Cheias de Charme a tele- comédia-musical do folhetim das sete – e diferente também foram as suas escolhas para trilha sonora, que conta com a presença de vários artistas dessa nova MPB que vem surgindo nos últimos anos, tais como Tiê, Fernanda Takai – que não é tão jovem assim, se levarmos em consideração seu tempo no Pato Fú, mas em carreira solo seu último disco não tem mais que cinco anos – e claro, a Tulipa, que encanta com os versos doces da baladinha romântica “Só sei dançar com você”, que aposto ser no momento sua canção mais conhecida por aqueles que ainda não experimentaram plenamente sua música.


“Tudo Tanto”, é o nome do CD que acabou de sair do forno, com 11 faixas, lançado pelo selo Natura Musical e produzido por seu irmão, o guitarrista Gustavo Ruiz, é recheado de participações mais que especiais, que só fizeram acrescentar pontos positivos ao trabalho. “Pode ser ou, é?”, essa é a pergunta que abre o disco e nos mostra que ela veio pra ser direta, e sem rodeios canta sobre um relacionamento que está começando e as dúvidas que surgem em torno dele, como “será que vai engatar?”, “e se for, quanto tempo até lá?” e a identificação com nossa vida é imediata, afinal, quem nunca passou por situação parecida? Depois da primeira faixa, “É”, o CD segue com “Ok” e “Desinibida”, duas faixas agradáveis que eu aconselharia ouvir durante uma caminhada matinal pela cidade, só pra relaxar. Depois vem “Quando eu achar”, que é pura filosofia, a noção de que o ser humano necessita estar em constante movimento está presente da letra à melodia e o finalzinho ainda conta com uma espécie de trava língua, que dá ideia de velocidade, de que não podemos parar. Um relacionamento defasado, esse é o tema da faixa seguinte, “Like This”, e quando a coisa não está mais funcionando não há porque hesitar em acabar. E a Tulipa é assim, se não der mais, ela prefere cair no vendaval e se deixar levar.  Relacionamentos bons ou ruins fazem parte da vida, fica tudo gravado e se torna parte da história pessoal de cada ser, não há como apagá-los, essa é a essência contida na letra de “Script”, que dá continuidade à faixa anterior.    

A faixa sete é uma das mais notáveis do CD, não sei se a música tornou-se a sétima por acaso, ou se tem algo a ver com aquela baboseira sobre numerologia, o que sei é que “Dois cafés” é daquelas que dificilmente tiramos do “repeat”. Mais uma vez a Tulipa vem com a ideia de movimento, e diz que não podemos parar por mais que as condições nos testem, o segredo é se adaptar e esperar, pois uma hora vai melhorar. A música conta ainda com a participação do grande Lulu Santos, encontro esse, inimaginável por mim, mas que resultou em algo muito bom! Mover, mudar, achar a melhor solução, dar continuidade a vida e esperar, indubitavelmente é uma forma para se descrever o disco, e as faixas “Expectativa” e “Bom”, exemplificam bem essa ideia. A penúltima faixa quebra um pouco o ritmo positivo do álbum, o blues “Víbora” ficou bem colocado no fim do disco, assim não atrapalha seu fluxo e ele procede com coerência.  Aqui, ser diferente não é problema, é mais um atrativo e a música, com uma melodia sedutora, descreve, do ponto de vista da Tulipa, a situação de ter alguém muito próximo, onde ela depositava sua confiança, traindo-a e ao longo da canção ela vai ponderando a respeito.  Ela a compôs em parceria com o pai e do rapper Criolo, dono de um dos melhores discos nacionais de 2011. E findando o álbum, “Cada voz” afirma de maneira mais categórica que devemos nos impor, soltar a voz que há dentro de nós, porque ela é única e merece ser ouvida.


Usando a internet como sua aliada, ao invés de demoniza-la, por causa da forma rápida de compartilhamento de arquivos, como muitos fazem hoje em dia, Tulipa disponibilizou todas as faixas do CD em seu site oficial (esse aqui: http://www.tuliparuiz.com/) para download gratuito. Uma atitude que considero sensata hoje em dia, pois não há como conter as dimensões que a internet tem. Ela não foi a primeira a tomar tal decisão e não será a última – espero em nome da não submissão da arte ao lucro –, em 2007 a banda britânica Radiohead lançou o maravilhoso “In Ranibows” de forma parecida, o diferencial foi que podíamos escolher o valor que atribuiríamos ao álbum.


 Em suma, “Tudo Tanto” é um disco que ouvimos para tornar o dia bem, decepcionando os masoquistas musicais de plantão, pois, metade do peso em suas costas se vai depois de ouvi-lo. Mais uma vez a Tulipa fez um ótimo trabalho, e já gerou um videoclipe para a música “É”, gravado em Londres e que pode ser conferido abaixo.



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