Mesmo a versão original tendo caído no gosto da grande massa populacional desse país, graças aos exageros das telenovelas globais, que levaram meus ouvidos a exaustão por tocar excessivamente em 9 de 10 esquinas por onde passei nos últimos meses, “Ainda bem” ainda conseguiu manter sua singularidade, beleza e charme que são características comuns à música feita por Marisa Monte. Falo de uma das cantoras mais talentosas das últimas duas décadas, que no início dos anos noventa ainda galgava tímidos, porém firmes, passos na carreira artística até o “boom” que veio com o seu segundo, e plenamente autoral, álbum de estúdio, lançado em 1991. Ao longo do tempo, com mais acertos do que erros, Marisa construiu uma carreira firme e digna de respeito. E foi com esse respeito que em 2011, ao lançar seu sétimo álbum, tendo a música acima citada como single chefe, imunizei-me contra toda a banalização dessa mesma canção. E mesmo quando alguns "artistas" surrupiaram a composição, colocando-a em melodias um tanto quanto bizarras, para mim, ela manteve-se intacta e ainda especial.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Cultura: “Ainda bem que agora ‘trovato voi’...”
Mas pela primeira vez confesso com grande satisfação que depois que ouvi a música na voz de certa cantora italiana, a versão da Marisa finalmente saiu do estado inerte que se encontrava até então. Pois o que Mina Piccolino fez com a canção não foi nada vergonhoso, muito menos digno de pena. A principio receei apertar o play, afinal, em música boa não se meche, mas quando o fiz, não me arrependi. Com um sutil toque de jazz acrescido à já conhecida influência do tango -- que deu um ar melancólico à canção --, ela ganhou mais vivacidade e ficou indubitavelmente mais latina do que nunca. Digo que essa foi a cereja do bolo, que veio para retocar, sem exageros, aquilo que já era bom. Segundo Marisa, a música foi composta com o intuito de selar uma parceria com Piccolino:
“Quando estava gravando o último álbum, queria muito propor uma parceria à Mina. Compus ‘Ainda Bem’ e mandei pra ela. A Mina gostou tanto que também gravou em seu último disco, lançado quase na mesma época que o meu".
Algo louvável nessa colaboração, que está compondo o time de excelentes faixas inseridas no último CD de Mina, intitulado “Piccolino”, foi o fato dela ter cantado em português, respeitando a essência da canção, pois assim não houve a necessidade de adaptar a letra traduzida à melodia, sem falar que nos presenteou com o seu agradabilíssimo sotaque italiano.
Além do “país do futebol”, o Brasil também merece ser conhecido como “país da boa música”. Claro, há aqueles poucos gatos pingados do exterior que já foram apresentados à verdadeira e boa música brasileira, e seria injusto não citá-los, mas se compararmos isso com a dimensão que atingem aqueles que dominam o mercado mundial chegaremos a triste conclusão de que só no futebol somos os primeiros do mundo. Algo facilmente explicado pela invisível, mas poderosa, barreira idiomática que nos rodeia.
O português é sim um idioma rico, sonoro, bonito, porém fatores socioeconômicos dificultam sua difusão. Não que isso seja de todo ruim. Pois por outro lado estamos protegendo nossa música contra uma possível invasão estrangeira, que pode acrescentar coisas boas, como foi feito em “Piccolino”, ou sermos vítimas do oposto, e o lucro se sobrepujar à arte.
E para finalizar, recomendo a música que pode ser ouvida aqui e também todo o CD onde a canção está inserida.
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